quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

GHV3 - Os últimos 20 anos



American Life é um álbum polêmico de Madonna. Os escândalos e os debates calorosos acerca de temas considerados inflamáveis não era nada de novo na carreira de uma cantora que desafiou a Igreja Católica no final dos anos 1980 e simulou uma masturbação no palco durante um número específico da sua turnê. O problema desta vez é que a artista havia adentrado na complicada discussão da era Bush nos Estados Unidos, um período de nacionalismo exacerbado, invasões territoriais assumidas cinicamente e a recuperação traumática dos estadunidenses em no pós-11/9. Ao adentrar por este terreno, Madonna sabia exatamente o que estava fazendo, isto é, discutia temas do seu interesse por meio da música, tendo como corrente promissora as discussões midiáticas sobre o assunto que fariam o álbum ser pauta.

‘Confessions’ é uma ode ao narcótico saudosismo das pistas de dança dos anos 1970 e 1980, incorporando elementos do disco, do dance e do new wave para um universo ao mesmo tempo ácido e envolvente, além de entregar algumas das melhores canções da década passada. O resultado acrescentou mais capítulos ao legado de Madonna e a colocou no centro dos holofotes, concedendo-lhe mais duas estatuetas e mais de dez milhões de cópias vendidas – e, levando em conta que números realmente não importam, o sucesso inesperado de seu décimo álbum de estúdio atravessa as gerações e permanece impactando a esfera musical até os dias de hoje.



Sobre Hard Candy... O que dá para perceber é que Madonna queria muito trabalhar com Justin Timberlake e Timbaland, além de experimentar as tendências adotadas por suas crias genéricas. O resultado foi um álbum genérico, longe de ser ruim, mas ainda mais distante da efusão do inesquecível trabalho anterior. “Confessions” nos fez criar muitas expectativas em torno do que viria depois, algo que se tornou um problema para Hard Candy. Os problemas, por sua vez, habitam apenas a seara do gosto, afinal, comercialmente falando, o álbum conseguiu ótimo desempenho e deu origem a uma turnê muito bem concebida, um dos pontos fortes na carreira de Madonna, uma mulher magnetizante.




Madonna, no álbum seguinte, opta por construir uma espécie de droga sintética cujo objetivo é viciar seus fãs – mas as escolhas, novamente, são equivocadas em grande parte das tracks. Em ‘MDNA’, que faz uma menção “mascarada” para o uso e os efeitos do ecstasy (MDMA), os ápices restringem-se mais aos materiais promocionais e à incrível capa do CD (que premedita as distorções e onomatopeias das quais ela se vale) do que às canções em si.

o subestimado ‘Rebel Heart’, procurava misturar aspectos contemporâneos e clássicos de sua própria discografia, num estilo proprioceptivo que é ausente em diversas carreiras da atualidade. Em março de 2015, o CD nascia e, apesar de ter tido uma recepção sólida por parte da crítica e um sucesso comercial considerável, ainda não representava o retorno à forma da rainha do pop; não obstante, merecia maior reconhecimento do que teve, principalmente por servir de influências para jovens cantores e compositores que dominavam a cenário fonográfico



Madame X é uma masterpiece. Na era dos extremos, no entanto, apesar da imagem com a boca costurada, em seu álbum, a camaleônica se recusa a ficar calada. Toca nas feridas da sociedade contemporânea doentia, atualmente desvirtuada por uma coalização de pensamentos racistas, misóginos e homofóbicos, algo que nunca foi novidade num mundo de conflitos opiniáticos, mas que no momento presente são chancelados por representantes políticos e seus seguidores alienados, massa de manobra de uma sociedade embrutecida, burra e estúpida. É a artista de Like a Prayer. É a provocadora de Justify My Love. É a mescla de musicalidades de La Isla Bonita. É a debochada de Bitch I’m Madonna. É a apaixonada de True Blue e a alegórica metralhadora de críticas sociais de American Life. É Madonna, como sempre, múltipla.

Visto tudo isso, apresentamos um álbum de seus grandes hits dos últimos 20 anos e de trabalhos que nos brindaram com músicas maravilhosa em um mundo cada vez mais plástico e genérico. Vida longa ao trabalho da Rainha do POP.



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